30.9.05

Mais uma

Homenagem. Bom, acho que deu pra perceber que estou na minha semana "happy", né? Primavera, poesia do Chico, sinos que tocam no ponto de ônibus, gentileza do motorista de ônibus, sol que clareou, aniversário de blog querido. Então, achei que cabia contar uma coisa aqui, pra continuar na mesma "linha da semana". Vou contar para vocês que espécie de pessoa é a minha mãe.
Semana passada experimentamos um novo salão para fazer as unhas, aqui perto de casa, que tem promoção na quinta-feira. Aí minha mami foi atendida por uma moça que está grávida, barrigão enorme, pés inchados, e muito cansaço e insatisfação estampados no rosto bonito. Minha mãe puxou conversa até descobrir que a menininha que vai nascer se chamará Júlia.
Eis que na semana seguinte (ontem), nós duas voltamos lá e mami levou um presente para a futura mamãe. Um quadrinho que ela mesma fez, escrito Júlia em cor-de-rosa. Quando abriu o embrulho, a moça perguntou surpresa: a senhora lembrou o nome? Sim, ela lembrou.

* A vida não é sempre clara, florida e musical. Na verdade, na maioria das vezes não é. Mas a minha mãe é sempre assim, generosa, coisa rara, desde que a conheci!

Homenagem

Hoje é aniversário do Garatujas!!! E eu vou contar uma historinha, em homenagem. Foi assim:
Um dia eu entrei numa lan house, e o usuário anterior a mim não tinha feito logoff. Assim, quando chego, eis que me deparo com o Garatujas! Sério, minha gente. Mas não foi só isso: o post falava exatamente de pessoas que não fazem logoff em lan house! Muito engraçado!Mas então, aí eu comecei a ler o Garatujas, e me apaixonei, e comecei a ler outros blogs, e finalmente decidi começar o meu. Tudo "culpa" do aniversariante. Posto que a homenagem é mais que justa! Vida longa ao Garatujas e Garapas!!!

29.9.05

Estava escuro e frio...

"fim da tempestade, o sol nascerá!"
Cartola e Elton Medeiros

... mas não é que hoje fez sol e clareou?
Quinta feira é o dia em que minha mãe e eu nos encontramos e ficamos um tempinho juntas. É o "nosso dia". Nós almoçamos juntas, vamos à manicure, e depois cada uma vai para a sua sessão de análise.

Descriminalização do aborto parte II

Meu último post (acho) do meu dia interminável: achei mais esse aqui, vale a apena ler. Concordo e assino embaixo.

28.9.05

Feliz

Hoje eu fui entrevistar um cara na prefeitura que está me enrolando há um tempão. Aí cheguei lá e a secretária contou que "esqueceu de me ligar para desmarcar, eles estão muito ocupados". Sem comentários. Aí fui para o curso de História da Canção Brasileira que estou fazendo na Casa das Rosas, e que é ótimo, outro dia eu conto procês. Na volta, um moço cego desceu do ônibus, mas com a confusão de portas e lados, ficou meio perdido. Então o motorista disse para o cobrador guiá-lo para atravessar que ele esperava. E ficou lá paradinho, na Paulista, esperando o cobrador guiar o moço cego. Foi bonito.
Outra coisa bonita aconteceu, mas essa eu vou contar com música. Música feliz para falar de dia feliz. A música também chama "Feliz". Aqui está:


"Vem pra misturar juizo e carnaval
Vem trair a solidão
Vem separar o lado bom do mal
E acalmar meu coração
Vem pra me tirar o escuro e a sensaçao de que o inferno é por aqui
Vem pra se arrumar na minha confusão
Vem querendo ser feliz"
Feliz - Dudu Falcão

E por falar nelas...

E não é que, eu aqui falando de mulher e a Fefê conta sobre esse debate, que é de suma importância?
Não tenho tempo de escrever um texto legal (e à altura do tema) agora. Mas só um pouquinho, antes de sair correndo e atrasada: porque uma mulher, antes de ser mãe, é uma pessoa, que tem o direito de dispor de seu corpo como quiser. Porque o que cabe a um Estado laico (não é piada!) é assegurar o direito legítimo de escolha, e tendo escolhido, a pessoa tem também (e inclusive) o direito de ser assistida na rede pública de saúde, como cidadã e não como criminosa. Porque a maternidade deve ser uma experiência fantástica, principalmente quando é fruto de uma escolha (e eu não estou me referindo à gravidez planejada, estou me referindo à escolha). Pela descriminalização do aborto.

Meninas...


...olha que lindo que o ídalo, junto com o Edu Lobo, falou sobre a gente:
"Dentro da fêmea Deus pôs
Lagos e grutas, canais
Carnes e curvas e cós
Seduções e Pecados infernais
Em nome dela depois
Criou perfumes cristais
O campo de girassóis
E as noites de paz"

É um trecho da música "Tororó", que está no Álbum de teatro, que é todo lindo.

27.9.05

Break


Cosmopolita - falando com minha prima de 14 anos, no msn - ela me diz: "Obicham te". Eu faço cara de paisagem. Ela socorre: "Quer dizer eu te amo em búlgaro". Então eu respondo: "me too, que eu sou mais provinciana!"

Lição - recebi no email: "Não esqueça os elogios que receber. Esqueça as ofensas. Se conseguir isso, me ensine".

Feliz - em ouvir música linda com o mesmo nome, CD novo da Maria Rita.

Temperatura - é inverno na primavera de São Paulo.

26.9.05

Jeitinho dele

Um dia eu ainda consigo me concentrar nas minhas tarefas ao invés de ficar mudando template do blog. I´m sure, tanto quanto dois e dois são cinco.
Mas até que ele ficou bem "jeitosinho"...

Mais poesia


Pra traduzir estado de espírito...

"eu penso conforme o tempo
eu danço conforme o passo
eu passo conforme o espaço
eu amo conforme a fome
eu como conforme a cama
eu sinto conforme o mundo
mas no fundo
eu não me conformo"
Marta Medeiros

24.9.05

Para falar das flores


"Vale mais o trem das cores
que uma existência pode perceber..."
Coração - Gonzaguinha


É Primavera!!!
Eu adoro a primavera, e esse ano, me esqueci que ontem foi o primeiro dia. Lembrei ao ler este post. E aqui está a homenagem e as boas vindas.
E por falar em flores e frutos, ontem uma amiga e eu conversávamos sobre amor, na "volta da balada". Lembramos dos nossos desencontros, e dos rapazes, digamos, pouco cuidadosos com quem já nos (des) encontramos. E a "conclusão" foi a de que queremos incorporar as "lições" que os desencontros nos dão, porém sem perder a capacidade de se entregar. Sem perder a ternura jamais...
Boa primavera procês!!!

22.9.05

Inclusão

Nação blogueira (essa eu copiei da Renata, achei super legal!):
eu inclui, finalmente, os blogs que tenho lido e gostado! E em ordem alfabética, bem bonitinho. Então, caso vocês descordem em ter seus blogs linkados nesse humilde espaço, queiram por favor manifestar-se, óquei?

Tonight

Eu ando muito cansada e sem energia. Agora a pouco fui à locadora. Na ida, beleza, estava disposta, alegre e saltitante. Mas na volta... Putz, saí da locadora e me deu um sono, uma preguiça, comecei a ter delírios, queria que um táxi me levasse até em casa (três quarteirões!). Como táxi não entra em prédio, queria que o motorista fosse algo assim como Eduardo Moscovis (na hora não veio ninguém melhor à cabeça...hahaha), e que me levasse no colo até o puf (minha sala não tem sofá) e colocasse o dvd no aparelho, e acendesse a luminária, e... Deixa pra lá!

Bom, mas como pelo que me consta, o Eduardo Moscovis ainda não é taxista, voltei me arrastando pelos tais três quarteirões. Aí, no meio do caminho, tomei um BAITA susto, com um mendigo que estava roncando, todo enrolado numa coberta cor de asfalto. Eu sei, não tem graça nenhuma.

E pra completar, eu tenho sempre a impressão que umas sombras pequenininhas que vejo na rua à noite são ratos. Acho que estou ficando meio paranóica... acho que é culpa daquele rato horroroso estampado no "Jornal do Ônibus" que a nossa excelentíssima prefeitura de péssimo gosto publica.

21.9.05

A propósito...

"Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína"

Essa é do Caetano mesmo.

SAMBA

"Samba é como amor, vicia..."
"na cintura da moça tem magia (...) e o batuque do negro é que arrepia"

São trechos de um samba que ouvi hoje, mas não deu pra saber de quem é!

15.9.05

...

queria, um dia, esvaziar minha cabeça do excesso de palavras, só por alguns instantes.

14.9.05

Informe de (in)utilidade pública

Hoje me desloquei de Perdizes ao Jardim São Luiz, na zona sul de São Paulo, para fazer uma entrevista. No meio do caminho, passei pelo Campo Limpo. Isso por que eu sou desorientada? Não (quer dizer, sou, mas não é esse o motivo). O fato é que eu liguei no 156, também conhecido como disque-itinerário da prefeitura, e o caminho que me foi informado estava errado. Pois é...

13.9.05

Filhotes

Esqueci de escrever na "ciranda" que gosto de plantas. Temos algumas aqui em casa, mas, verdade seja dita, os cuidados com as bichinhas andam bem aquém do merecido.
Mas mesmo assim, a planta da sala pariu duas lindas "baby-folhas". Eita sujeitinhas resistentes!

Leitura econômica (ou "pseudoleitura")

A caminho da manicure, passo por dois garotos, de no máximo 16 anos. Diziam mais ou menos assim:

- No começo ele gosta de cidades, e no fim não gosta mais.
- Como assim?
- Ah, no começo ele quer ir para a cidade, depois não gosta.
- Prefere o campo?
- Acho que sim... Bom, é que eu não li o livro, só ouvi a professora falar na aula.
- Ah...
- Mas pega o resumão na internet...
- Acho que não adianta...
- Ah, então pega o livro e lê os capítulos cruciais.

Capítulos cruciais? Hum...

11.9.05

Veredas

“Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma!”

"Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa"

Minha gente, esses são trechos de Grande Sertão: Veredas. Estou lendo. Uma experiência incrível, um livro que já está marcado na minha vida. Êita sertão...

9.9.05

Eu li a idéia aqui. E como adoro me descrever, como toda boa leonina (ih, já falei antes!!), aderi:

As Duas Fridas disseram:

Sei bordar ponto cruz mas não sei costurar, não tricoto nem crocheteio, mas fuxico horrores; só pinto o sete e as unhas, só danço músicas que gosto (então sento e levanto o baile todo) e tenho um violão, que eu posso tocar, embora não o faça; sou apaixonada por belezas, em geral. Fotografo muito, desisti da teoria quando senti o cheiro da matemática. Adoro ler e escrever. Gosto de tecnologia, mas só as que aproximam humanos; também sou fã de cartas - principalmente as ridículas. Louca por sons e imagens - sou libriana. Cultivo um senso de humor afiadíssimo, só dói quando eu não rio. Gosto de gente muito mais do que de animais e plantas, mas às vezes descuido dos três igualmente. Cabelos sempre finos e há muito tempo acima do peso, rindo pra fora, fácil de enxergar. Boa de garfo, inapta pra o fogão. Bebo mais do que como.Tenho muitos dedos no bolso, pouco dinheiro, conselhos mis. Amo descaradamente, mas não despreze meu amor que eu rosno. Gosto de calor civilizado, sol, estrelas, do Himalaya. Vivo no Rio, a vida pode ser bacana. Não devo - nego enquanto puder. Adoro caixas e laços, mas adoro mais os presentes; dou e recebo menos do que gostaria. Preciso de atenção. Não mordo - a não ser que peçam...
Frida Helê, a libriana

Costuro nada, prego botões mal, fuxico bem; desenho toscamente, mas com prazer; gosto de cantar e dançar, e quando começo não consigo parar; aprendi violão mas esqueci as canções; adoro música, desisti da teoria quando senti o cheiro da matemática. Fotografo muito, mais ainda depois da câmera digital. Nem sempre gostei de tecnologias, mas depois que elas se tornaram amigas dos humanos, me rendi. Leio e escrevo menos do que gostaria, embora já seja muito. Guardo (quase) todas as cartas e (grande) parte dos bilhetes que já recebi - mesmo os ridículos. Louca por palavras e sabores - sou taurina. Tenho um senso de direção que, segundo minha irmã, poucas mulheres têm. Gosto de gente, não gosto de bichos e confesso que só entendi gente que ama bicho depois que conheci a Fal e a Letícia. Nunca pintei meus cabelos muito grossos. Fui muito magra, ligeiramente gorda e agora sou só uma barriguinha sexy. Rio fácil, por dentro. Todos me acham seríssima, até eu fazer a milésima piada e eles entenderem. Boa de garfo, boa de fogão. Como mais do que bebo. Dou conselhos mesmo quando não me pedem, e até pouco tempo atrás não me conformava quando alguém ousava não segui-los. Só tenho ciúmes quando me dão motivo. Frio e fome me deixam temporariamente burra (e mal-educadíssima). Vivo no Rio, daqui não saio, daqui ninguém me tira. Mas preciso viajar muito, pra longe, e depois voltar. Devo, sempre, alguma coisa a alguém. Mesmo quando não devo nada. Adoro fazer caixas e dar laços. Adoro mais ainda ganhar presentes bem embrulhados. Mordo e assopro.
Frida Monix, a taurina

E eu continuo...

... não sei bordar absolutamente nada, tampouco costurar. Prego botões em casos de extrema necesidade. Já fiz um cachecol de tricô (um só mesmo). Adoro cantar, o que não significa que eu saiba. Dançar? Bem, depende da música e do teor etílico. Sou toda teoria e palavras, às vezes até demais. Fujo é da matemática. Gosto de fotografar, mas faço pouco. Quero uma câmera digital. Houve um dia em que eu podia dizer que gostava de ler e escrever. Hoje leio por profissão e escrevo por necessidade. Mas sempre sobra espaço para fazê-los por prazer. Com a tecnologia, o caso é de amor e ódio. Adoro cartas, escrevo várias delas para amigos, meus pais e amores, e guardo todas que recebo (que são bem poucas, então às vezes imprimo e-mails). Música é meu combustível. Gosto de gente, e não gosto de bichos, nenhum mesmo. Tenho muito cabelo, fios grossos e pretos. Acima do peso há alguns anos, e consequentemente, muito boa de garfo. De fogão, mais ou menos, mas sou bem preguiçosa. As pessoas costumam me pedir conselhos (e eu dou, afinal, falo pelos cotovelos). Dou palpite quando não perguntam também, é verdade, mas não é sempre. Vivo em São Paulo, onde tem todos os shows e filmes que eu preciso, todo o barulho que me assusta e nenhum mar, que eu adoraria. Gosto da cidade à noite, e suas luzes, e o calor, aqui, é insuportavelmente poluído, sempre acho que vou cozinhar. Quero viajar pela América Latina de carro. Adoro presentes, dar e receber, e recebo menos, também. Não sei ao certo o que devo, não fiz a conta. Quando me dou conta, já mordi.

8.9.05

Alice Ruiz e Alzira Espíndola

Um trecho de uma das músicas das duas procês:

"não é preciso ter talento
para transformar caso em descaso
já o contrário é que é
o caso".

Tecla SAP

"vão passando os anos e eu não te perdi
meu trabalho é te traduzir..."
Caetano Velloso, Trilhos Urbanos

Cena:
Uma amiga e um amigo, casados. Ela estava trabalhando, era mais de três da tarde, e não havia almoçado. Ele vira para ela e diz: "pára um pouco, vá almoçar. você não tem se alimentado direito, só trabalhando o tempo todo, isso faz mal... se ficar doente, vai atrasar ainda mais o trabalho".
Eu o conheço o suficiente para saber que o atraso do trabalho não o preocupa em nada. A preocupação é com ela. Mas é papel da mulher, muitas vezes, traduzir...

5.9.05

Enquanto isso, na vida real...

New Orleans e "Ensaio sobre a Cegueira" (Saramago). Qualquer semelhança seria mera coincidência?

3.9.05

De Caio Prado a Guaianases

Faz um tempo que reluto em encarar essa tarefa. Quero contar para vocês sobre minhas experiências “de campo”. Odeio o termo, mas ele está aqui de propósito, para dar o teor da narrativa.
Meu trabalho no centro de pesquisas (pois é, além do mestrado, eu trabalho com pesquisa acadêmica), inclui, algumas vezes, trabalho de campo, entrevistas, coletas de dados. Dessa vez a pesquisa é sobre um programa de atenção à saúde que se localiza, principalmente, em bolsões de pobreza. Já fui a vários lugares, sempre penso em escrever um post, mas nunca sai. Acho que o assunto é espinhoso.
Dessa vez o local era Guaianases. Leste da zona leste. Cerca de uma hora da minha casa, sem trânsito. Muito, muito longe mesmo. Vamos numa equipe de dez pesquisadores (ou mais ou menos isso). A ida foi animada, eu conversava com um colega sobre seu projeto de mestrado, e fomos de “Quanto vale ou é por quilo?” a Caio Prado Junior, e a possibilidade de esfera pública no Brasil, enfim... Discussão densa, a caminho do “campo”.
Chegando lá, cada um vai procurar seus “entrevistados”. Começa a luta. As casas, em sua maioria, não tem numeração, e quando tem, é irregular. O negócio é encontrar o pessoal pelo “boca a boca”. E é incrível como tem sempre alguém disposto a ajudar. E depois, passam por nós e perguntam, sorrindo: “achou a casa, moça?”. Sorrindo. Resta saber exatamente de quê.
Uma das ruas que fui chamava rua do Córrego. Fácil entender o motivo do nome: um córrego cortava a rua de terra de ponta a ponta. Era esgoto a céu aberto. As crianças que me mostraram algumas casas brincavam à beira. O odor, bem desagradável.
E por falar nelas, as crianças são muitas, muitas mesmo. As “lojinhas de doces" também. Deve ser complicada a equação muito consumo de doce + nenhum dentista no posto de saúde público. Enfim.
Muitas vielas compõem o cenário. As casas, incrivelmente minúsculas, sem ventilação, uma em cima da outra. Muitas delas têm cachorros. O cenário também tem bares, muitos. Muita cachaça. O Chico já contou pra gente que “também sem a cachaça, ninguém segura esse rojão”.
Entrevistei dez pessoas. Dez pessoas solícitas, dez pessoas que me convidaram para entrar. Um deles me parou na rua: “a senhora quer me entrevistar?”. Eu disse que sim, mas ia almoçar naquele momento. Ele respondeu que me esperaria, em sua casa. Sorridente. Na hora da entrevista eu o chamei de senhor até perguntar a idade: 32 anos. Eu não podia imaginar. Mas a vida deixa suas marcas, e o envelheceu uns quinze anos, sem nenhum exagero.
Finalmente chego à última entrevista. Um menino lindo (achei que ele tinha a carinha do pequeno que eu quero adotar, um dia), com cinco anos, aparece no quintal, e depois vem a mãe. Essa não me convida para entrar imediatamente, e depois de uns minutos descubro por que: ela me conta que tem “problemas mentais”. Descubro que sofre de depressão. Estranho nessas condições, é não sofrer.
Ela me chama para entrar, e nessa casa eu decido ficar além dos quinze minutos que duram a aplicação do instrumento de pesquisa. Fiquei um pouco mais de uma hora. Uma necessidade de deixar algo, acho. Ofereci meus ouvidos. Ela contou muitas coisinhas. Que há três anos sofre de depressão, tem crises de auto-flagelação, mas como tem tomado muitos remédios, “está controlada”. Descobri então que seu tratamento, no Hospital Público, consiste na medicalização da depressão, pura e simplesmente. Nenhum acompanhamento terapêutico, e o diagnóstico do médico é o de que ela nunca deixará de tomar os remedinhos que a “controlam”. Três filhos, a mais velha tem treze anos. Ela tem 33. Ao me despedir, ela me pediu um abraço, e disse que eu poderia voltar quando quisesse, para conversar.
Na volta, meus colegas de labuta estavam ainda falantes. Falando de coisas menos sérias, é verdade, afinal, o trabalho foi bem cansativo, muitas ladeiras. Mas eu não queria conversar. Lembrei das “teorizações” da manhã, e me senti tão estranhamente pequena. Só tive vontade de ficar calada, por horas e horas.

1.9.05

Tênis X Frescobol

Esse texto foi extraído de um livro do Rubem Alves que chama "Retratos de amor". Vamos lá:

"Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário, porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui, ou os dois ganham, ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim..."