6.8.06

Um intelectual público

Nesse final de semana, tive uma overdose de cinema nacional. Sábado, cama de gato, hoje à tarde, como nascem os anjos, e agora a pouco, um documentário sobre Milton Santos, intitulado por uma outra globalização.
Cama de gato eu estranhei. Até entendo o que o diretor quis abordar, mas não falou comigo. Já como nascem os anjos, eu adorei. Li uma crítica dizendo que as atuações são péssimas. O crítico viu outro filme ou é idiota.
Agora, o que eu quero mesmo comentar, é o documentário. Que merece todos os aplausos pela pertinência da homenagem, e que faz bem feita.
Milton é entrevistado numa salinha da FFLCH, reconheço logo. Já sinto um orgulhozinho de estudar na mesma escola em que ele foi professor, confesso.
Começa falando sobre a dificuldade de ser negro e intelectual, no Brasil. E ao invés de focar na questão da pobreza, da falta de recursos, ele escolhe como explicação lembrar que é difícil ser intelectual num país onde não faz parte da cultura nacional ouvir, tranquilamente, uma palavra crítica.
Assitimos então os relatos de vários intelectuais brasileiros, e um francês, discutindo a obra de Santos, o que ele significou de revolucionário para o estudo da geografia urbana. Falam bastante sobre a idéia do espaço como construção social. E sobre as possibilidades de se analisar todos os impactos trazidos pela globalização perversa, a partir dessa perspectiva.
Milton Santos fala também sobre cidadania, um assunto que me é tão caro. Lembra que no Brasil, nunca existiu cidadania, porque a classe média não quer direitos, quer privilégios. E faz do consumo seu fundamentalismo.
Mas o intelectual brasileiro também enxerga perspectivas otimistas. Segundo ele, há muitas possibilidades de mudança estrutural na sociedade, mudanças que virão, sobretudo, de baixo. Explica que existe uma ética dos poderosos e outra ética dos que não tem nada. Nessa segunda, uma enorme potencialidade de mudança, porque ao contrário do que pensam os doutores, o clamor por mudanças é cada vez mais compreendido pelas classes populares. Fica o desejo enorme de que esse clamor se traduza em ações.
Por fim, Milton Santos explica o que entende por intelectual público. Um homem que busca a verdade, que possua a coragem de mostrar essa verdade, e a humildade de reconhecer seus erros, sua limitações, se permitindo voltar átras se necessário. Um homem como ele foi.

8 Comments:

Blogger Nelson Magela said...

Final de semana cheio de conteúdo. Gostei do que vc falou do documentário de Milton Santos. A verdade, esse é o caminho!

10:39 PM, agosto 06, 2006  
Blogger Giu! said...

"O crítico viu outro filme ou é idiota." HAHAHA, so top four isto!

9:41 AM, agosto 07, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Eu AMO esse livro do Milton Santos (tô usando ele aqui no silviço, ele tá na minha frente, cê acredita?), e agora fiquei doida pra ver esse documentário.

3:48 PM, agosto 07, 2006  
Anonymous Anônimo said...

eu conheço pouco dele. artigo de jornal basicamente. mas queria ver um pouco do otimismo que ele tem. pra ver se contagia.

5:43 PM, agosto 07, 2006  
Blogger Vaca said...

ele era o único que prestava

8:07 PM, agosto 07, 2006  
Blogger Luma Rosa said...

Ser intelectual no Brasil, antes de qualquer outro preconceito, já é um grande preconceito. Beijus

9:01 AM, agosto 08, 2006  
Blogger Janaina said...

Eu sou fã do Milton Santos. Aprendi a gostar dele com a minha mãe. Figuraça.

9:41 AM, agosto 08, 2006  
Anonymous Anônimo said...

E onde foi que você viu? Tem como copiar e mandar pros confins do brasil profundo? Adoraria passar pros meus queridos alunos de educação ambiental... (estou doente com essa história de alunos, mas tudo bem, além de querer passar pra eles, eu também quero assistir).

10:00 AM, agosto 08, 2006  

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