22.5.06

Do Amor

Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera
(A noite como fera se avizinha).
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um tempo só múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.
Hilda Hilst

1 Comments:

Blogger Janaina said...

O que é isso dos poetas sempre dizerem o que a gente sente com tanta perfeição?

11:40 AM, maio 23, 2006  

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